sexta-feira, 3 de maio de 2013

2013 PONTO UM: mais uma tentativa de atualizar este blog



É engraçado que vira e mexe aparece no meu email um comentário ou outro de gente que leu algum post antigo deste blog. A maioria parece ser comentário de adolescentes e eu fico pensando em como essa pode ser uma ferramenta importante, por vários aspectos, mas sobretudo porque é um blog de um curso de Licenciatura que está, nas proporções possíveis, dialogando com estudantes do ensino básico.

Então, eu acho que vou continuar insistindo na alimentação dele.

No semestre passado a gente bem que tentou. Eu mudei a cara do blog (mas não gostei do resultado, acho que vou mudar de novo), postamos algumas coisinhas de Estética do Oprimido, mas também não fomos muito longe. Coisas de Dramaturgia, nem postamos, e olha que produzimos muito. Em Dramaturgia I - Introdução ao Estudo do Texto Dramático, produzimos textos dramáticos (dãããã), construídos pelos estudantes da disciplina. Em Dramaturgia III - Vanguardas do Século XX e Teatro Contemporâneo, produzimos trabalhos cênicos a partir dos princípios do Teatro Essencial. E em Estética do Oprimido, produzimos uma edição do Projeto Prometeu e uma encenação de um Teatro-Fórum, sobre a situação da Xerox no nosso campus.

Isso, sem falar no Engenho de Composição, né, mas esse tem seu próprio blog!

Neste semestre estou ministrando as disciplinas Dramaturgia II - Tragédias, Comédias e Drama Moderno e Metodologia da Pesquisa em Teatro, com os estudantes do 5º semestre de Teatro. Eles mesmos, que eram 3º semestre quando começamos este blog. Com o pessoal que agora é 3º semestre, não estou dando História da Arte, não, que agora se chama ESTILOS, POÉTICAS E PROCEDIMENTOS. Por conta de remanejamentos, vamos oferecer quando eles forem 5º semestre. Com eles estou fazendo a  disciplina ESTÁGIO EM CRIAÇÃO TEATRAL I - Teatro Realista e Teatro Épico.

Vamos ver se eu consigo estabelecer uma rotina de trabalho aqui para o blog. Se der, ótimo, é um lugar privilegiado de diálogo e de registro documental. Se não, no semestre que vem, eu venho aqui e e lamento de novo, fazer o que, né?

Abraços a todos os leitores.

Drica


E só pra esclarecer porque eu vim escrever tudo isso, é porque acidentalmente eu me encontrei de novo com esta preciosidade: Curtam mais uma vez, ou pela primeira vez. Depois dêem uma passada no post (clicando aqui) e leiam os comentários. Ah, podem comentar também, sempre!



domingo, 24 de fevereiro de 2013

60 e assiste, não!!! Cê levanta, entra e faz!

O Projeto 60 e Assiste: Uma hora de puro teatro nasceu dentro da disciplina FUNDAMENTOS DA EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO HUMANA II que foi ministrada por mim no semestre de 2011.1 com o então segundo semestre de Teatro, turma que entrou em 2011. A disciplina era teórica, mas a sede de palco dos meninos era grande. Assim, juntamos a fome com a vontade de comer. Como a ementa do curso dizia respeito à semiologia do teatro, fizemos na prática aquilo que estudávamos no papel.

E foi lindo ver aqueles meninos se deparando com a queda de seu mundo certinho. A insistência em se desligar dos códigos realistas, televisivos que são a grande maioria do nosso horizonte de expectativa. Desconstruir o texto, o sentido, o roteiro... reconstruir a cena, a fábula, o sonho.

Assim, seguimos, levando toda terça cenas para o público interno da UESB, geralmente os estudantes da noite que vinham conhecer nossos produtos.

E não é que a coisa foi ganhando prumo?

Com algumas falhas no começo, alguma dificuldade de manter a constância, fui fazendo aquilo que mãe faz: insistindo, estimulando, cobrando, punindo, apertando, abraçando, acompanhando os passos de cada estudante que vinha pra cena. E aos poucos, como sempre, dando espaço para que o estudante fosse ocupando este espaço que é dele, por direito e dever.

Assim, no segundo semestre de 2012 as coisas entraram mais nos eixos. Fomos para as quartas-feiras. Fizemos uma equipe coordenada por Caio Braga e Polly Kirlia mais diretamente e outros parceiros. Fomos garantindo que toda quarta tivesse, para que o público pegasse o costume. Fomos experimentando uma iluminação alternativa feita com retroprojetor, uma boca de cena com cortinas colegiais, senhas impressas e xerocopiadas, audiomídia e tudo mais. Era lindo de ver Caio e suia gente esquentada criando, no sentido mais artístico do termo. Milton Santos ficaria feliz de ver aquela resistência cultural. Estudantes do interior do Nordeste brasileiro usando o que tem nas mãos para promover uma revolução local - portanto global.

CLIQUE AQUI PARA VER MAIS SOBRE O 60 E ASSISTE

E, eis que o ano de 2013 começa e o 60 estreia com um especial de resultados de oficinas ministradas por mim. Há os que não sabem que por conta da greve, o calendário da UESB é meio torto e o ano começa mas o semestre ainda não terminou, ou seja, ainda estamos em 2012.2. Subversão total!

Por conta disso, imaginando que haveria problemas com a oferta de cenas, resolvi que as minhas disciplinas teriam resultados práticos a serem mostrados no 60, fazendo com que a gente mantivesse o projeto em dias e também socializasse nossos produtos cênicos, que só tem razão de existir, no palco.

E lá fomos nós apresentar a cena produzida em dois turnos de trabalho com o 6º semestre de Licenciatura em Teatro.


O tema escolhido para o Fórum foi a qualidade (ou não) dos serviços prestados pela Xerox do nosso campus.

O susto já começou na entrada. Tínhamos em torno de 200 pessoas num espaço que recebe frequentemente 80 pessoas. Fiquei até com medo. Os cartazes divulgando o assunto da cena fizeram um bom serviço E também, acho que a galera estava com saudade do 60!

Comemoramos a estreia dos quatro refletores PAR's comprados com fundos levantados com o chapéu passado nas sessões do 60 e do Engenho de Composição. Uma coisa linda de se ver! LITERALMENTE. Muito simples, a nova iluminação fez o que devia: ILUMINOU A BELEZA DE NOSSA EXISTÊNCIA!

Conforme os princípios e estratégias do Teatro-Fórum, os estudantes apresentaram a cena XEROX: UM PROBLEMA ORIGINAL, logo após a preparação da plateia que contou com uma música de abertura executada pelos atores, onde eram levantados os problemas dos estudantes no campus. Após a música o curinga (eu - Profª Adriana Amorim) fez a explicação da oficina, das teorias de Augusto Boal e alguns jogos para aquecimento da plateia.

Apresentada a cena - muito bem recebida pela plateia, com aplauso em cena aberta e mutia identificação com os problemas apresentados.

Finda a cena, fomos a uma breve leitura do que aconteceu, explicação de como proceder e reinício da cena.

A partir daí, meu amigo, o que se viu naquela sala, jamais será esquecido. Foram 5 espect-atores em cena, muita participação da plateia, grito de guerra, invasão do palco e por fim a redação coletiva de um abaixo assinado, com o auxílio da Profª de Leitura e Produção Textual Karine Cajaíba, exigindo providências em relação à licitação do serviço de Xerox. 128 estudantes assinaram o abaixo assinado. O Diretório Central de Estudantes do Campus comprou a briga e em parceria com a Profª (eu) e o representante estudantil da turma Matheus Xavier (nosso Tuzza) entrgou e protocolou o abaixo assinado, dois dias depois à Prefeitura de Campus, que se comprometeu a tomar providências e esclarecer as questões pontuadas no documento.

O documento foi xerocado e escaneado e será distribuído na rede e nos murais do campus.

Primeira folha das 6 folhas com assinaturas dos estudantes presentes

Além da questão da xerox, o evento acabou suscitando discussões no facebook sobre o curso de Letras do mesmo Campus. Esta discussão acabou gerando uma reunião ser realizada entre os estudantes do curso, em busca de melhorias. Mais um desdobramento que a gente nem imaginava, encabeçado por um espectador que participou como espect-ator do nosso fórum, Jefferson Barreto, estudante de Letras.

Não posso nem tentar medir o tamanho da minha alegria e da minha realização.

Depois de dois anos sendo professora desta turma, a turma estreante deste lindo e revolucionário curso, turma de 2010. Depois de dores e delícias, nos despedimos com essa alegria artística e política (isso é um pleonasmo, não é Boal?). Uma despedida terna e delicada, como merecemos que seja.

Na próxima quarta tem 60 especial TEATRO ESSENCIAL onde apresentaremos alguns princípios da queridíssima Denise Stoklos.

São esses artistas brasileiros da cena que fazem toda a diferença no palco e na vida.

São estes artistas do interior baiano, promovendo a revolução a partir da cena.

Que lindo foi ver aquele levante dentro de um teatro!

Que assim seja!


domingo, 3 de fevereiro de 2013

REFLEXÕES DE UM 'DESOPRIMINDO'

Por Palmeiron Andrade*



São tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, que por vezes algumas delas passam sem que sejam percebidas, mesmo eu me trabalhando sensivelmente para aprender a ver e sentir além do óbvio. Na tarefa árdua da escrita e de viver, ao tentar desmascarar situações opressivas presentes próximas ou não, corro o risco de permanecer apenas na superficialidade da discussão.

Tendo consciência de que em determinadas circunstâncias “ir mais fundo” representa sair do comodismo e falar de coisas que tenho consciência do quanto sejam más, porém no momento da fala/ação não sei ou não consigo me expressar como gostaria. Isso felizmente não acontece em demasia, mas não é sempre que ao presenciar ou participar de situações opressivas tenho coragem e resistência suficientes para me posicionar contra.

Pois bem, gostaria mesmo assim de levar ao conhecimento dos colegas um pouco do pensamento crítico que tenho construído ao longo de minha permanência no curso de teatro e agora, especificamente fazendo parte da disciplina Estética do Oprimido. Se perceber nesse momento me dá a sensação de estar sendo libertado, adquirindo poder transformador.

Vou tentar aqui observar uma empresa presente em Jequié no que diz respeito às opressões e danos causados aos seus funcionários através de sua política de funcionamento, essa trabalha com o chamado: “Quadro reduzido”. Diminui o número de funcionários ao máximo sobrecarregando as atividades e horários daqueles que por fatores externos são obrigados a permanecer. “Mas isso não é um espetáculo.”

Entre outras que para mim também adotam um regime abusivo de funcionamento escolhi a empresa “G” como objeto dos meus comentários. Ela obriga que seus escravos trabalhem todos os dias sem direito a feriado, final de semana e horário fixo de trabalho, mas entendo que, além disso o que se torna mais grave ainda é a privação de desenvolvimento intelectual e sensível causada a essas pessoas. Digo isso porque conheço alguns dos trabalhadores que ainda permanecem por lá e sei o quanto quiseram, mas deixaram de ir a espetáculos e movimentos teatrais que discutem temas variados das relações cotidianas por conta do trabalho. Não puderam estar em shows de música e de dança que eu os convidei. Arte liberta.

Em cinco anos, quantos finais de semana e feriados perderam longe da família, amigos, viagens, poesias e passeios? Da vida? E não é preciso ser especialista em nada para perceber que historicamente as pessoas não têm acesso a elas mesmas e de determinada forma também contribuem com a permanência dessas estruturas por permanecerem imóveis em situações opressivas.

Os poderosos gostam muito disso.



 “Trabalhadores é hora de perder a paciência.”

A possibilidade de inverter os lados é nossa se somos nós que sofremos tais angústias, precisamos boicotar, deixar de comprar na empresa “G”, nós trabalhadores precisamos exigir, estranhar, não se acostumar, não ouvir a fala do especialista, do economista.

Por que as coisas estão assim? Quem é que deseja que continuem assim? Há casa para todos, terra para todos, comida e roupa? Só precisamos perder a despreocupação.


*Palmeiron Andrade é estudante do 6º Semestre de Licenciatura em Teatro na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - Campus Jequié. Artista plástico, ator, cantor.


REFERÊNCIAS:

BOAL, Augusto. Jogos para atores e não atores. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 14º ed. 2011.
BOAL, Augusto. Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 11º ed. 2011.

ESPETÁCULO TEATRAL: ESTE LADO PARA CIMA, Brava Companhia. São Paulo. Brava Companhia, 2012.