O Projeto 60 e Assiste: Uma hora de puro teatro nasceu dentro da disciplina FUNDAMENTOS DA EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO HUMANA II que foi ministrada por mim no semestre de 2011.1 com o então segundo semestre de Teatro, turma que entrou em 2011. A disciplina era teórica, mas a sede de palco dos meninos era grande. Assim, juntamos a fome com a vontade de comer. Como a ementa do curso dizia respeito à semiologia do teatro, fizemos na prática aquilo que estudávamos no papel.
E foi lindo ver aqueles meninos se deparando com a queda de seu mundo certinho. A insistência em se desligar dos códigos realistas, televisivos que são a grande maioria do nosso horizonte de expectativa. Desconstruir o texto, o sentido, o roteiro... reconstruir a cena, a fábula, o sonho.
Assim, seguimos, levando toda terça cenas para o público interno da UESB, geralmente os estudantes da noite que vinham conhecer nossos produtos.
E não é que a coisa foi ganhando prumo?
Com algumas falhas no começo, alguma dificuldade de manter a constância, fui fazendo aquilo que mãe faz: insistindo, estimulando, cobrando, punindo, apertando, abraçando, acompanhando os passos de cada estudante que vinha pra cena. E aos poucos, como sempre, dando espaço para que o estudante fosse ocupando este espaço que é dele, por direito e dever.
Assim, no segundo semestre de 2012 as coisas entraram mais nos eixos. Fomos para as quartas-feiras. Fizemos uma equipe coordenada por Caio Braga e Polly Kirlia mais diretamente e outros parceiros. Fomos garantindo que toda quarta tivesse, para que o público pegasse o costume. Fomos experimentando uma iluminação alternativa feita com retroprojetor, uma boca de cena com cortinas colegiais, senhas impressas e xerocopiadas, audiomídia e tudo mais. Era lindo de ver Caio e suia gente esquentada criando, no sentido mais artístico do termo. Milton Santos ficaria feliz de ver aquela resistência cultural. Estudantes do interior do Nordeste brasileiro usando o que tem nas mãos para promover uma revolução local - portanto global.
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E, eis que o ano de 2013 começa e o 60 estreia com um especial de resultados de oficinas ministradas por mim. Há os que não sabem que por conta da greve, o calendário da UESB é meio torto e o ano começa mas o semestre ainda não terminou, ou seja, ainda estamos em 2012.2. Subversão total!
Por conta disso, imaginando que haveria problemas com a oferta de cenas, resolvi que as minhas disciplinas teriam resultados práticos a serem mostrados no 60, fazendo com que a gente mantivesse o projeto em dias e também socializasse nossos produtos cênicos, que só tem razão de existir, no palco.
E lá fomos nós apresentar a cena produzida em dois turnos de trabalho com o 6º semestre de Licenciatura em Teatro.
O tema escolhido para o Fórum foi a qualidade (ou não) dos serviços prestados pela Xerox do nosso campus.
O susto já começou na entrada. Tínhamos em torno de 200 pessoas num espaço que recebe frequentemente 80 pessoas. Fiquei até com medo. Os cartazes divulgando o assunto da cena fizeram um bom serviço E também, acho que a galera estava com saudade do 60!
Comemoramos a estreia dos quatro refletores PAR's comprados com fundos levantados com o chapéu passado nas sessões do 60 e do Engenho de Composição. Uma coisa linda de se ver! LITERALMENTE. Muito simples, a nova iluminação fez o que devia: ILUMINOU A BELEZA DE NOSSA EXISTÊNCIA!
Conforme os princípios e estratégias do Teatro-Fórum, os estudantes apresentaram a cena XEROX: UM PROBLEMA ORIGINAL, logo após a preparação da plateia que contou com uma música de abertura executada pelos atores, onde eram levantados os problemas dos estudantes no campus. Após a música o curinga (eu - Profª Adriana Amorim) fez a explicação da oficina, das teorias de Augusto Boal e alguns jogos para aquecimento da plateia.
Apresentada a cena - muito bem recebida pela plateia, com aplauso em cena aberta e mutia identificação com os problemas apresentados.
Finda a cena, fomos a uma breve leitura do que aconteceu, explicação de como proceder e reinício da cena.
A partir daí, meu amigo, o que se viu naquela sala, jamais será esquecido. Foram 5 espect-atores em cena, muita participação da plateia, grito de guerra, invasão do palco e por fim a redação coletiva de um abaixo assinado, com o auxílio da Profª de Leitura e Produção Textual Karine Cajaíba, exigindo providências em relação à licitação do serviço de Xerox. 128 estudantes assinaram o abaixo assinado. O Diretório Central de Estudantes do Campus comprou a briga e em parceria com a Profª (eu) e o representante estudantil da turma Matheus Xavier (nosso Tuzza) entrgou e protocolou o abaixo assinado, dois dias depois à Prefeitura de Campus, que se comprometeu a tomar providências e esclarecer as questões pontuadas no documento.
O documento foi xerocado e escaneado e será distribuído na rede e nos murais do campus.
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Primeira folha das 6 folhas com assinaturas dos estudantes presentes |
Além da questão da xerox, o evento acabou suscitando discussões no facebook sobre o curso de Letras do mesmo Campus. Esta discussão acabou gerando uma reunião ser realizada entre os estudantes do curso, em busca de melhorias. Mais um desdobramento que a gente nem imaginava, encabeçado por um espectador que participou como espect-ator do nosso fórum, Jefferson Barreto, estudante de Letras.
Não posso nem tentar medir o tamanho da minha alegria e da minha realização.
Depois de dois anos sendo professora desta turma, a turma estreante deste lindo e revolucionário curso, turma de 2010. Depois de dores e delícias, nos despedimos com essa alegria artística e política (isso é um pleonasmo, não é Boal?). Uma despedida terna e delicada, como merecemos que seja.
Na próxima quarta tem 60 especial TEATRO ESSENCIAL onde apresentaremos alguns princípios da queridíssima Denise Stoklos.
São esses artistas brasileiros da cena que fazem toda a diferença no palco e na vida.
São estes artistas do interior baiano, promovendo a revolução a partir da cena.
Que lindo foi ver aquele levante dentro de um teatro!
Que assim seja!