quarta-feira, 11 de julho de 2012

BARROQUEANDO COM AMOR E SEXO

Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso, porque já chorei demais. Calma! Eu não estou ficando louca, eu sei que não é essa música que nos remete ao título, mas  a letra dessa canção nos leva a algum lugar na história, vocês saberiam dizer a época? Quem respondeu BARROCO, acertou em cheio, pelo menos é o que parece, não é? Então, vamos refletir um pouco, não nessa música, mas em OUTRA que semelhante a essa elucida um pouco sobre algumas características bem próprias, do barroco. Talvez esta seja um bom exemplo da contradição barroca traduzida em notas e acordes. Então, ofereço à vocês para puro deleite. Escutem aí.


Depois de ouvir, vamos agora observar com mais calma a letra, sem perder de vista aquilo que muito nos interessa, por isso ofereço também este belo soneto gregoriano.
 
 AMOR E SEXO (Rita Lee)
Amor é um livro
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte...
Amor é pensamento
Teorema
Amor é novela
Sexo é cinema...
Sexo é imaginação
Fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia...
O amor nos torna
Patéticos
Sexo é uma selva
De epiléticos...
Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
            
Sexo é invasão
Amor é divino

Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Uh!
Amor é para sempre
Sexo também
Sexo é do bom
Amor é do bem...
Amor sem sexo
             
É amizade
Sexo sem amor
É vontade...
Amor é um
Sexo é dois
Sexo antes
Amor depois...
Sexo vem dos outros
E vai embora
Amor vem de nós
E demora...


Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Oh!
Amor é isso
Sexo é aquilo
E coisa e tal!
E tal e coisa!
Uh! Uh! Uh!
Ai o amor!
Hum! O sexo!


 
À instabilidade das coisas do mundo

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Lua se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância. (Gregório de Matos)

 
Se estar aqui fosse um ato de puro prazer, talvez eu me dedicasse um pouco mais em decompor cada verso, mas ainda assim, como pra mim escrever é um ato muito prazeroso, vou tentar trazer algumas linhas do meu pensamento barroco, pois apesar das minhas limitações cognitivas e afetivas em relação a invasão da cibercultura em minha vida, sou uma estudante em processo, sou gente deste mundo e não tenho a síndrome de Gabriela.
Mas, sem mais delongas, vamos ao que interessa!
Mesmo sendo textos produzidos em épocas bem distantes e diferentes, podemos perceber que existem pontos que eles se tocam. A música de Rita Lee reflete uma contradição entre o espírito e a carne, ou seja, toca na religiosidade quando um duelo é traçado para tentar conceituar Amor e Sexo. Aí podemos dizer que existe o culto ao contraste observado na utilização de antíteses (cristão e pagão; antes e depois; latifúndio e invasão), também revela elementos divergentes com amizade e amor, bossa nova e carnaval, novela e cinema.
No poema de Gregório também, esse uso de antíteses é facilmente identificada (nasce e morre, dia e noite, tristeza e alegria), também notamos o pessimismo que é marcado pelas dúvidas e incertezas: acaba o Sol, por que nascia? Se é tão formosa a Luz, por que não dura?Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia?
O cultismo está presente em ambos os textos quando observamos o uso constante de figuras de linguagem como metáforas, metonímia e prosopopeia. Sendo assim é inegável a influência do barroco para nossa época, pois o que é bom, o que é ruim também, não pode ser refutado, apenas resignificado ou talvez sim.
No barroco há a presença marcante também do exagero, ao extravagante, do trocadilho e, em alguns casos a bizarrice. Enfim, o barroco marcou época ao modificar e ir de encontro à simetria e as belas formas clássicas.
Por fim, quero deixar um pensamento que considero motivador para as nossas discussões, para os nossos feitos na faculdade e na vida. E é como diria Roberto de Abreu, dica pra vida toda:  
Se existe uma forma de fazer melhor... descubra-a (Thomas Edison).
Ione Barbosa
 

15 comentários:

  1. Querida, não consegui colocar a música em tabela, deixa pra lá. Gostei muito de suas considerações. Outro sinal de que o Barroco está com tudo nesta virada de Século (e milênio)é que ele tem sido talvez o assunto mais debatido aqui no blog, e o que as pessoas mais conseguem se envolver. Também gosto muito das duas poesias e acho que os contrários acabam por revelar o que a cultura ocidental estranha muito e sofre até, mas que a oriental já sabe desde tempos imemoriáveis. Sabe que somos feitos do equilíbrio de forças antagônicas. Mas, nós temos essa tendência históirca e cultura de sermos maniqueístas: ou somos bons, ou maus, ou brancos ou pretos, ou ricos ou pobre... Por isso talvez o barroco seja tão eterno.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom! Tentar é sempre melhor que desistir!Ontem a professora Maria disse que nós parecemos estar ainda na Idade Média, mas nós diríamos um pé lá outro cá, tanto das contradições nas formas, nos versos, nos pensamentos quanto em nós mesmos. Ao que parece, nós não somos tão OU assim, mas na verdade E, pois não somos uma coisa ou outra, mas uma coisa e outra e não há nada de errado nisso, apenas louco. Somos bons e maus, pretos e brancos, normais e loucos, lindos e feios (toda mulher sabe o que é isso)amamos e odiamos e ás vezes ao mesmo tempo, estamos certas e erradas (como por exemplo eu agora)se até o tempo é frio e quente na mesma época, por que nós reles mortais não podemos ser formados por constrastes?
      Viajei um pouco, não foi? rsrsrs

      Ione

      Excluir
  2. Na disciplina História da Arte, o Barroco veio contagiar os estudantes de Artes da UESB, barroqueando com Drica e esta belíssima receita de Ione: barroqueando com amor e sexo, afinal, a Arte tem dessas coisas. O conhecimento é uma higiene mental para o resto das nossas vidas.
    Parabéns colega Ione, vc é uma forte candidata para a Academia Brasileira de Letras(rsrs)

    Luzinete Queiroz - Luemcena

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. KKKKKKKKKK. SÓ TU MESMA, VIU LU? E OBRIGADA PELA ACADEMIA DE LETRAS, ADOREI!

      Excluir
  3. Que Post Lindo...
    Olha eu nem tenho muito o que dizer aqui, uma análise muito legal da letra e da poesia.

    É isso aí Ione!
    É a Licenciada em Teatro mais gata do mundo *_*

    ResponderExcluir
  4. Que bom que gostou, porque você está um crítico de primeira. Tenho lido seus comentários e tá arrasando!!! O licenciada, Deus proverá e obrigada pelo gata KKKKKKKKKKKKKK tu é demais, viu?

    Ione

    ResponderExcluir
  5. Tudo o que nos vem a mente é comentar este post, no entanto, estamos meio abobados sem saber o que dizer - afinal de contas essa relação entre os dois poemas foi reluzente. Ione brocou! rs...

    Deixamos um outro poema de Guimarães Rosa que não pertence ao barroco, no entanto diz muito sobre as querelas tão características do barroco e da vida.

    O correr da vida embrulha tudo.
    A vida é assim: esquenta e esfria,
    aperta e daí afrouxa,
    sossega e depois desinquieta.
    O que ela quer da gente é coragem

    Assim como o barroco, a vida em si, traz de imediato a idéia de estar em contradição - e o rebusca-mento da arte barroca é reflexo do dilema em que vivia o homem dos anos de 1600. Daí as preferências por temas opostos: espírito e matéria, perdão e pecado, bem e mal, céu e inferno... lálálá

    ...Tudo isso gerava a preocupação com a brevidade da vida (carpe diem).
    Vivemos sob algumas características do barroco até hoje em que os conflitos, as inquietações, contradições e divergencias nos trazem, de alguma forma, o equilíbrio, em que tomamos decisões, fazemos escolhas, somos, em alguma medida, livres para pensarmos diferentes um do outro e escolher entre amor e sexo ou só amor, ou só sexo ou sexo e amor. Como adriana diz: " (...) por isso talvez o barroco seja tão eterno".

    É nóis! (Renascimento na Itália)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. "Mais importa a caminhada que o ponto de chegada". Lindo, né? Né meu não, também não sei de quem é, mas é isso aí. A caminhada deve ser aproveitada, testada, curtida e é assim que deve ser a FACU. Porque quando a gente sai , a gente pensa: o que foi que eu fiz nesses quatro anos? Que a idade de OURO não seja depois da FACU, mas enquanto vcs estão nela.
      OBRIGADA PELOS COMENTÁRIOS!!! LINDO!! ADOREI O POEMA DE GUIMARÃES ROSA( grande nome da literatura brasileira). Ele seria alvo fácil para uma análise barroca. E é isso mesmo. CORAGEM SEMPRE.
      E essa música vai para.... O Renascimento na Itália

      Devia ter amado mais
      Ter chorado mais
      Ter visto o sol nascer
      Devia ter arriscado mais
      E até errado mais
      Ter feito o que eu queria fazer... (Titãs)


      IONE

      Excluir
  6. Lindamente Ione você arrasa como sempre!!
    Muito Interessante sua relação em Barroco e Amor e sexo...
    Nossa me aventurei do começo ao fim. A leitura me chamou para ler mais e mais!
    Parabéns! Um texto claro e bem objetivo que me levou a viajar pelo Epoca Barroca e refletir que temos traço barrocos nesse novo milênio.
    Polly Kirlya

    ResponderExcluir
  7. Sinto faltar as palavras para expressar a grandiosidade deste post...
    A maneira com que Ione argumenta o conteúdo do Barroco, fazendo uma relação belíssima através de dois poemas, me fez perceber que as características apresentadas nesse estilo de época, se repercute também na contemporaneidade, nos mais diversos aspectos.
    A música de Rita Lee associada ao vídeo, transmite um sentido amplo em nossas interpretações... parabéns pela criatividade!
    Como diria Eça de Queiroz: “A arte é um compêndio da natureza formado pela imaginação.”

    Nágella Almeida

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Menina, esse post tá dando o que falar, né? Se eu faço análise do amor e do sexo, então?! kkkkk é brincadeira.Valeu, Nágela!!

      Ione

      Excluir
  8. Viva a interdisciplinaridade, viva o pensamento complexo de Edgar Morin!
    Mergulhando no Barroco, dou uma volta na idade Média, em seguida entro no Renascimento,e logo,me dou de cara com a música de de Titãs. Isso que é uma aula sobre o Renascimento!
    RENASCIMENTO X BARROCO.
    Gostei Ione do conflito Proposto.Olha só,quando analiso a letra da música de Titãs, tanto percebo, elementos da cultura Barroca, como também, do Renascimento.
    Do ponto do vista Barroco,o homem que ama e que deveria ter amado mais,isso provoca de certa forma(Contradição). Do homem que deveria ter errado mais, mas que no fundo se hesitava em aprender por medo.Enfim... e o último verso é o que me respaldo para confirmar a minha hipótese:Ter feito o que eu queria fazer... Do ponto de vista Renascentista, percebo que em todo esse trecho da música o homem é movido por seus anseios e inquietações, de descobrir, de aprender mesmo errando, do viver a vida como ela é. A vida que precisa ser vivida,e que está ligada as nossas escolhas (livre arbítrio).
    Gostaria de ver mais opiniões sobre a música de Titãs.

    Everton Santos Paixão

    ResponderExcluir
  9. Essa Ione é muito da marqueteira, botou um título com sexo no meio e tornou-se logo o TOP TREND do blog. KKKKKKKKKKK. Brincadeirinha. É isso que ela falou. Nem entrou no assunto do sexo, ficamos só na forma, no namoro. Pra cama, mesmo, nem fomos. E o sexo só no título já deu esse burburinho, imagina se a gente toca no assunto. Imagina se a gente entra nas metáforas de Rubem Alves... Hum, que delícia. Vamo que vamo. Drica.

    ResponderExcluir
  10. Pra quem ta na seca, mijo de camelo é água com gás. (ridículo, Ana) rs

    ResponderExcluir