sábado, 14 de julho de 2012

Da Pietá de Michelangelo à Pietá de Aroldo Fernandes






                                                         Pietà (1498–1499) Michelangelo

As primeiras pietà surgiram em finais do século XIII na Alemanha, onde é chamada Vesperbild. De sua origem em terras germânicas, o tema expandiu-se para outras regiões da Europa ao longo da Idade Média, expressando-se frequentemente tanto na escultura como na pintura. Aparentemente, as imagens medievais eram destinadas à contemplação mística dos fiéis, permitindo que o devoto se sentisse presente no momento do abraço sofrido entre Maria e Jesus. A expressão dolorosa do rosto idealizada, por Michelangelo, contrasta com a angústia que tradicionalmente os artistas lhe imprimiam. Torna-se assim evidente a influência do “pathos” dos clássicos gregos.
O contrato da Pietá foi firmado em 1498, e a encomenda foi feita por Jean Bilhères de Lagraulas, cardeal francês no papado de Alexandre VI. Lagraulas pretendia colocar a escultura de mármore em seu memorial. Um ano depois, em 1499, a escultura estaria pronta atendendo a todos os requisitos propostos pelo cardeal no que se referia a prazo, perfeição e beleza. O cardeal Lagraulas faleceu antes de ver a sua encomenda finalizada, mas, de acordo com sua vontade a escultura inicialmente foi colocada na capela dedicada à nação francesa no Vaticano (Santa Petrolina). Por conta de um ato de vandalismo ocorrido em 1972, hoje à escultura é protegida por uma redoma de vidro inquebrável.


 
Fernanda Paquelet em Pau Brasil. Primeiro longa de fernando Belens, é baseado em livro homônimo de Dinorah Valle, premiado em concurso cubano


O tema do filme revela um olhar original sobre a vida de homens e mulheres que vivem no sertão, Belens coloca a intolerância, o preconceito, a hipocrisia, dentro do contexto da história, que trata da rivalidade entre duas famílias pobres que sobrevivem num ambiente hostil. Pau Brasil é baseado no livro homônimo de Dinorah do Valle, que recebeu, em Havana, o prêmio Casa de las Americas. A autora participou da gestação do roteiro, mas não pôde vê-lo concretizado porque morreu antes das filmagens.




 
Na foto: Everton Paixão & Vicente di Paulo - Alunos dos cursos de Licenciatura Dança e Teatro


Diferente dos casos anteriores, no primeiro em que o cardeal não viu sua encomenda pronta e no segundo em que a autora do livro que inspirou o filme “Pau Brasil” morreu antes mesmo que os trabalhos tivessem finalizado graças a Deus esta coincidência não seqüenciou aqui pelas bandas de Jequié no período em que preparavámos o Espetáculo “No Branco do Olho”, trabalho que nos rendeu “modéstia parte” esta bela imagem.
Se na obra do renomadíssimo escultor renascentista a imagem permitita que o devoto se sentisse presente no momento do abraço sofrido entre Maria e Jesus, no filme (foto 2) é impossível que o telespectador não se redima a esta cena/imagem que é de clamor e piedade e que retrata os horrores vividos pelo povo sertanejo. Comparando as dores, fragilidades e lamentações, faço este paralelo com a imagem do espetáculo que embora não exprimindo os sentimentos de “uma mãe que lamenta” deixa claro, até por conta da obra que nos inspirou (Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago) o quão forte e necessário se faz em nossa sociedade a presença de um colo que acolhe , recolhe, protege e deixa transcender os sentimentos de compaixão e piedade, cada vez mais escassos entre nós seres humanos. Foi à metáfora da cegueira que mais precisamente nos inspirou para a realização deste trabalho. O espetáculo foi estreado em abril de 2012, e nos permitiu perceber a que ponto, chega os clamores, as tragédias e lamentações, postas entre mãe e filho, marido e mulher e entre qualquer um de nós que presencia até os dias atuais as desgraças provocadas pelos braços que muito nos consolaria se estes fossem estendidos para o acalanto e aconchego nos protegendo de horrores outros que nunca deixarão de está presente em nosso meio, tais como a fome e a miséria. De tudo, este também nos proporcionou esta belissíma imagem que ousadamente podemos chamar de: A Pietá de Aroldo Fernandes (Diretor do Espetáculo No Branco so Olho).

Vicente Di Paulo

12 comentários:

  1. Querido, que belo post. Que ideia ousada, criativa e curiosa. De fato, a Pieté é uma das imagens mais recorrentes em filmes, outras pinturas, novelas, peças de teatro e mesmo outras esculturas. A leitura que você faz das questões temáticas que envolvem a obra é muito interessante. Do ponto de vista formal, podemos observar que é uma proposta interessante, pois a posição dos personagens envolvidos possui certa simetria, um encontro entre o vertical e o horizontal num eixo central, formando possíveis variações de uma cruz egípcia (pagã). Engraçado é que a Pie´ta de Michelangelo tem um peso que parece empurrar Maria para baixo. Já na Pietá de Aroldo, parece haver leveza que empurra a ambos para cima. A dor de Paquelet (grande atriz), por sua vez, parece um contraste entre o peso da dor da mãe, com a não-presença do filho (cono na de Michelangelo). Enfim, ficaria horas aqui comentando os detalhes. É disso que eu gosto! Abraços. Drica

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  2. Sublime...

    em um momento mais oportuno relatarei o que senti agora que li este post.

    Parabéns Vicente!

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  3. A pietá de aroldo fernandes é a melhor! (Palmas, Vicente, Aroldo e Erica Daniela - que fotografou!)

    Olha essa Pietá aqui:
    http://www.youtube.com/watch?v=ekz6gaZh6hM
    Dessa vez é do Milton...
    Ana

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  4. Intocável Vicente!!

    Como Ana, também prefiro a de Aroldo Fernandes.

    Viva as Pietás!!

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  5. Belas reflexões Vicente. A imagem de Pietá de Aroldo Fernandes realmente ficou linda...

    Flávia Sanctus

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  6. Só agora vi este post, fico inebriado com tamaha comparação!! Muito bom texto Vicente,muito boa iniciativa Drica! Parabéns! Fou um grande prazer fazer "No Branco do Olho" com vocês! Aroldo Fernandes.

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    1. Oh, Réroldi! Antes tarde do que nunca! Que cafona! kkkkk. Bem vindo ao blog, amor. Precisamos mexer mais, mas cadê tempo? Bjos.

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    2. Infelizmente, Time is Money. Como são professores, Money não rola muito!
      Risos.

      BeijOs

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  7. Verdade Matheus, time is money, money doesn't come so often, this way time either! rsrsrs

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